Um simples idoso viciado
Sentado na cadeira de balanço
Nunca mais andei armado
De tanto tentar fugir
Do que fui
As vezes me canso
O sangue da guerra
Corre em minhas veias
Lembranças de um pobre aventureiro
Não consigo achar minhas meias
E nem um mundo melhor
Do qual não fui herdeiro
Ainda sou feliz
Neste mundo que tanto se contradiz
O passado me traz dor
Era um bom menino
Fugi das raízes
O destino sombrio me tira
A oportunidade de
Saber como é sentir amor
Mãos calejadas e desidratadas
As mesmas que tiraram muitas vidas
Vivendo o antes à minha maneira
Espero gravetos
Em vez de rosas envelhecidas
Vejo vida, vejo morte
O espelho reflete meu rosto enrugado
O rosto daquele
Que um dia achou que
Ser forte era a única sorte
Sentado na cadeira de balanço
Sem medo de ver a morte chegar
Um lindo jardim
Pássaros cantando
Chorando e rezando
Pelas vidas que pus fim
Seis décadas se passaram
E o arrependimento
Me custou o fígado
Drogas pesadas
Substituíram pessoas
Meu braço dói
Me sinto surrealmente feliz...
Ainda sou feliz
Neste mundo que tanto se contradiz
O passado me traz dor
Era um bom menino
Fugi das raízes
O destino sombrio me tira
A oportunidade de
Saber como é sentir amor
Eis-me aqui armado
No campo de concentração
O passado insiste em ir e vir
Honra e cidadania
Me levaram à maldição
De não ter para onde fugir
Sem esperanças
De uma noite de lucidez
Me acabando junto com o mundo
Levo este peso
Sou a vítima da vez
Careço daquele sincero
Sentimento mais profundo
Simples distrações variando
Desde olhar a paisagem
Até cortar um peixe
Não de mesmo sangue
Daqueles pobres homens
Que matei friamente
No Terceiro Reich
Levo hoje do passado
Meu único conforto
O dinheiro...
Estar vivo é o que nem sempre
Para um homem
Que fez o que fiz
É o melhor a se fazer
O destino severo
Me trouxe até onde estou
Pés de alface e galinhas
Dependem de mim
Para ninguém mais
Tenho importância
Dependência química
É o que me restou
Sem medo de estar
De frente com o fim
Um mero detentor dos frutos
De meu próprio trabalho
Passo o dia todo
Falando sozinho
Não tenho mais amigos
Para jogar baralho
Expresso a solidão
Em meu violão de pinho
Vivo a ilusão de pensar
Que fui um herói de guerra
Em minha querida Berlim
Mesmo passando
Todas as noites acordado
Vendo o dia clarear
Percebendo que nada fui
E nada mais serei...
Toda substância
Agora é pouco
Eu quero mais
Até não poder mais...
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