07 maio, 2013

Ainda sou Feliz Neste Mundo que Tanto se Contradiz...

Um simples idoso viciado
Sentado na cadeira de balanço
Nunca mais andei armado
De tanto tentar fugir
Do que fui
As vezes me canso
O sangue da guerra
Corre em minhas veias
Lembranças de um pobre aventureiro
Não consigo achar minhas meias
E nem um mundo melhor
Do qual não fui herdeiro

Ainda sou feliz

Neste mundo que tanto se contradiz
O passado me traz dor
Era um bom menino
Fugi das raízes
O destino sombrio me tira
A oportunidade de
Saber como é sentir amor

Mãos calejadas e desidratadas

As mesmas que tiraram muitas vidas
Vivendo o antes à minha maneira
Espero gravetos
Em vez de rosas envelhecidas
Vejo vida, vejo morte
O espelho reflete meu rosto enrugado
O rosto daquele
Que um dia achou que
Ser forte era a única sorte

Sentado na cadeira de balanço

Sem medo de ver a morte chegar
Um lindo jardim
Pássaros cantando
Chorando e rezando
Pelas vidas que pus fim
Seis décadas se passaram
E o arrependimento
Me custou o fígado
Drogas pesadas
Substituíram pessoas
Meu braço dói
Me sinto surrealmente feliz...

Ainda sou feliz

Neste mundo que tanto se contradiz
O passado me traz dor
Era um bom menino
Fugi das raízes
O destino sombrio me tira
A oportunidade de
Saber como é sentir amor

Eis-me aqui armado

No campo de concentração
O passado insiste em ir e vir
Honra e cidadania
Me levaram à maldição
De não ter para onde fugir
Sem esperanças
De uma noite de lucidez
Me acabando junto com o mundo
Levo este peso
Sou a vítima da vez
Careço daquele sincero
Sentimento mais profundo

Simples distrações variando

Desde olhar a paisagem 
Até cortar um peixe
Não de mesmo sangue
Daqueles pobres homens
Que matei friamente
No Terceiro Reich
Levo hoje do passado
Meu único conforto
O dinheiro...

Estar vivo é o que nem sempre

Para um homem
Que fez o que fiz
É o melhor a se fazer
O destino severo
Me trouxe até onde estou
Pés de alface e galinhas
Dependem de mim
Para ninguém mais
Tenho importância
Dependência química
É o que me restou
Sem medo de estar
De frente com o fim

Um mero detentor dos frutos

De meu próprio trabalho
Passo o dia todo
Falando sozinho
Não tenho mais amigos
Para jogar baralho
Expresso a solidão
Em meu violão de pinho
Vivo a ilusão de pensar
Que fui um herói de guerra
Em minha querida Berlim
Mesmo passando
Todas as noites acordado
Vendo o dia clarear
Percebendo que nada fui
E nada mais serei...
Toda substância
Agora é pouco
Eu quero mais
Até não poder mais...

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