30 julho, 2013

Sorriso Solitário

Já contei que, às vezes
Ando sozinho, sem rumo por aí
E que, já há alguns meses
Ando sorrindo aqui e ali
Pelas boas coisas
Que andam acontecendo
E aparecendo
Em minha vida?

Já contei também que
Desejei paz eterna
Na vida após a morte
De um cachorrinho
Que encontrei abandonado
Como sempre foi durante vida
Perto de meu local de trabalho?

Pois é, ele tinha expressão vazia
Como todo ser morto
Mas parecia ser
Uma expressão ainda mais cheia
Comparado a como era
Quando tinha corpo vivo
Em busca de comida
E de um pouco de amor

Bom, ele está com Deus!
A olho nú, está com a natureza
Prefiro deixar decidir
Quem está lendo isso
Independente de onde sua alma está
Está morto
A morte faz parte da vida
E disso, todos sabem
E não aceitam
Mas, sigo feliz...

A vida ainda não melhorou
Falta muita coisa ainda
Falta muita gente ainda
Falta muita felicidade ainda
Porém, a minha, melhorou
Se eu não tivesse
Me tornado vegetariano
Diria que, pesquei um peixe grande
O sorriso faz parte de minha face
Digamos que, tenho uma boca
Em meu sorriso
E não o contrário...

Meu sorriso hesita
Quando ligo a televisão
E vejo tanta mentira
Disfarçada de verdade
E tanta verdade
Disfarçada de mentira
Mas vivo o hoje
Vivo a vida
As telas não são vidas
As telas são telas
A vida é outra coisa
Muito mais valiosa
Apesar de não parecer

Mas, ao ver a felicidade
Dos que estão ao meu redor
Meu sorriso para de hesitar
E passa a brilhar
Tal como o sol
Tal como a lua
Tal como o olhar de uma criança
Tal como os olhos
Daquele cachorrinho morto
Que tenho certeza
Que brilhavam muito
Apesar de seu sofrimento
Em vida...

Ando sozinho, sem rumo por aí
Pensando em coisas ruins
Às vezes, não controlo meus pensamentos
Penso também em coisas boas
Limitados a poucos momentos
Mas, pensando bem
Vejo que meu sorriso solitário
Apesar de ter um corpo magro
Se mantém mais forte
Que minha tristeza
Que se encontra anêmica
Sempre revezando
Entre o coma e a plena consciência
Minha tristeza é variante
Já o sorriso, uma constante
Não é necessário estar sempre feliz
Para sorrir, mas...
Já contei que
Por enquanto, está tudo indo bem?

18 julho, 2013

Tempo

     O tempo passa, e leva junto a ele, as pessoas, as casas, os prédios, os dias, as semanas, os anos, as décadas, os mares, as terras, os planetas, as estrelas, as eras, e tudo que um dia já foi seu, meu, deles ou delas. O que permanecerá para sempre, independente do tempo que se passe, se resume em uma só palavra: memórias... De quem? Do tempo. O tempo um dia vai se lembrar de outro tempo, daquele em que ele corria com todos, sem levar tudo que conseguimos graças a ele. Chegará um dia em que o tempo, de tão cruel e egoísta, assim como o homem cruel e egoísta, acabará na solidão. Apenas o tempo, correndo sozinho no infinito, nada mais...

17 julho, 2013

Rua da Imaginação

   Sou morador único daquela casinha verde, na rua da imaginação. Ora chamo alguém para uma visita, ora fico sozinho, desfrutando das razões que me levaram a escolher aqui, o meu cantinho. Quero trocar o piso. Porcelanato, talvez, dura mais. Besteira minha! Em minha casinha, as coisas duram o tempo que eu quero, então, vinílico! Definitivamente, não. Provisoriamente. Amanhã trocarei tudo novamente, em um piscar de olhos.
   Dia ou noite? Ora noite, ora dia, ora noite, ora dia. Ontem fiz anoitecer - mudei o grande relógio da cozinha para às nove da noite - enquanto bebia meu chá e lia um jornal
 A notícia era triste. De repente, larguei o chá pela metade, decidi olhar a rua pela janela e vi um garotinho maltrapilho e de olhar abismal sentado na esquina, como sempre, triste por ser invisível.
   Não para mim.
   O fiz ser um garoto de esperança, então logo avancei o ponteiro do grande relógio para às nove da manhã e o sol raiou - em menos de um segundo - e com ele, o clareou-se sorriso e o mundo daquele pobre garoto, que já não era mais pobre, pois começara em seu primeiro emprego em uma revistaria. Era a cara dele, sentia isso!
   Oh! Esqueci meu chá lá em ontem à noite, ele já deve estar tão gelado quanto o olhar do garoto que ontem, era pobre, e hoje, é rico de esperança. Acho que o chá nem deve mais estar lá. Alguém deve ter bebido... Não tem problema! Preciso aproveitar este dia claro para brincar um pouco de ser normal. 
     Ser normal para mim, é voltar a ter dezessete anos, morar em um barraquinho na Zona Sul, com menos de um prato de comida ao dia e pais separados, sendo minha mãe uma diarista muito batalhadora e meu pai um bêbado que sempre nos visitava vestindo roupas sujas, falando enrolado e com as mãos fechadas, em nossa direção. Não gostava das visitas dele. sempre me fazia chorar - e nunca foi de felicidade.
   Ser normal, para mim, é lembrar-me, também, que minha mãe - e minha única fortaleza - tinha quebrado a coluna e ficara inválida; e que eu teria de ficar na rua para conseguir algo para comermos, pois não podíamos recorrer a ninguém. Ainda bem que eu tinha acabado de terminar o ensino médio. Fui uma raridade na comunidade. Ser normal, para mim, é lembrar-me que, um mês depois de minha mãe quebrar a coluna, perdemos nosso barraco - e tudo mais - num deslizamento de terra enquanto eu estava roubando frutas da feira para alimentar esta família de duas pessoas. O pior é que minha pobre mãe estava em seu quarto, dormindo para nunca mais acordar.
   Após recapitular os últimos acontecimentos, tinha me arrependido de ter saído de minha casinha verde onde tudo acontecia, na hora que eu queria, na rua da imaginação. Estava aos prantos, sem ter para onde ir. Já se fazia uma semana desde que perdi meu lar - e minha mãe - e o jeito foi dormir na calçada. Tenho meu cantinho fixo, uma esquina bem agradável na primavera onde há uma praça bastante arborizada ao lado e uma bonita casinha verde, parecida com a que eu tinha antes de brincar de ser normal, e na janela dela, um rapaz que sempre me observava de frente à esquina onde passei a "morar".
     Ontem foi um dia que ficou em minha memória pois, não conseguia afastar certas imagens de minha vida da cabeça: os socos do meu pai, as humilhações pelas quais passei na escola e a que mais pesava junto às minhas lágrimas: a imagem de meu barraco totalmente destruído e eu sabendo que minha mãe, tão batalhadora e que lutou para colocar o pouco de comida em nossa mesa e que tantas vezes já apanhou de meu pai comigo, estava lá no meio. Mas, não foi isso que fez com que ontem ficasse em minha memória, afinal, essas lembranças sempre vinham à minha mente, mas sim, algo que eu jamais esperava em toda minha vida: o rapaz da casa verde, que me observava tanto, decidiu ir falar comigo. Era noite, aproximadamente às nove. Ele atravessou a rua com um jornal na mão e perguntou-me:
     - Por que choras tanto, garoto? Onde estão seus pais?
   Então respondi:
     - Não tenho pai e perdi minha mãe e minha casa há pouco tempo. Não tenho para onde ir, não tenho o que comer, muito menos ideia do que terei de fazer para sair das ruas. Peço ajuda, mas fingem não me enxergar. Pensei até em entrar para o crime, assim como fizeram quase todos os meus antigos colegas de classe, mas não quero isso para mim. Pelo menos não por enquanto. Se eu continuar sem existir para o mundo, é isso que farei: me tornar um assaltante, assim, terei o que comer e as pessoas me enxergarão.
     Então o misterioso rapaz surpreendeu-me com uma proposta:
     - Então você é um dos que ficaram desabrigados com o deslizamento de terra na Zona Sul? Acabei de ler neste jornal, que por sinal já tem alguns dias. Sempre te vejo aí, triste, dormindo na calçada, pedindo esmola às pessoas que fingem estar apressadas para não lhe dar atenção. Já vi até quem tenha lhe jogado papeizinhos de bala, lhe confundindo com um cesto de lixo. Aliás, se você fosse um cesto de lixo, jamais jogariam papeizinhos de bala em você... Quero lhe propor algo, quero lhe ajudar. Quando criança, tive uma história parecida com a sua, quando jovem, perdi minha mãe, meu pai era um torpe, nasci e cresci na favela e hoje estou aqui, bem resolvido, ou pelo menos trabalhando no que gosto. Sou formado em Jornalismo e dono daquela revistaria da praça, e preciso de alguém para me ajudar a organizar as revistas em suas devidas seções, já que fico pouco lá porque também trabalho em uma empresa de comunicação. O que acha de dormir em uma cama novinha? A ideia parece ótima, não? Pois bem, venha. Se afaste destes pensamentos ruins. Se quiser mesmo trabalhar para mim, começará amanhã mesmo! Pode ficar em minha edícula por enquanto. Só não se importe com o piso, pois troquei recentemente por piso vinílico, tanto da casa principal quanto da edícula. Você pode estranhar, mas é de um ótimo gosto.
     Muito emocionado, respondi ao rapaz:
     - Muito obrigado por mudar minha vida! Muito obrigado por me mostrar que não sou invisível e não sou ou fui o único sofredor deste mundo. Eu vou aceitar sua proposta e estou muito feliz!
     - Então, vamos atravessar a rua. Já são nove da noite e quero que comece já amanhã. Como a revistaria é logo ali, se sair às nove da manhã, você não se atrasará. Bem vindo ao futuro, jovem rapaz. Qual o seu nome?
     - Pedro! Meu nome é Pedro. - respondi ao rapaz.
     - Entendi! Muito prazer em conhecê-lo!
   Ao entrar em sua casa, o rapaz que não me falou seu nome me ofereceu um copo de chá, que por sinal estava morno e pela metade. Bebi tudo rapidamente e deixei derramar algumas gotas em minha roupa velha. Ele me preparou um sanduíche que eu nunca imaginaria comer em toda a minha vida, e após comer ele me mostrou a edícula, me separou algumas roupas, mostrou-me o banheiro para que eu tomasse um banho e foi à cozinha escrever não sei o quê.
     - Irei dormir, já está ficando tarde. Sua casa será esta, provisoriamente. Espero que goste do trabalho. Até mais e boa noite!
   Não consegui responder de tão emocionado que eu estava. Tomei meu banho e dormi como nunca havia dormido em minha vida. Eu sentia esperança, eu me sentia bem.
   Hoje, acordei às oito da manhã e logo tomei um banho quentinho. Uma delicia! Fechei a porta da edícula e fui até a cozinha do Daniel tomar café da manhã. Prestei bastante atenção em sua sala, lotada de jornais, revistas, papéis e canetas para todos os lados, além do copo vazio de chá. Me interessei muito por aquilo. Me empolguei tanto com toda aquela bagunça que pensei: "quero ser como ele!".
   Vesti minhas roupas novas e saí para ir trabalhar. Eram exatamente nove horas da manhã e eu havia saído primeiro que ele para abrir a revistaria. Ele me dissera durante o café que, em breve, a venderia para dedicar-se totalmente ao jornalismo, o que ele dizia, com muita ênfase, ser sua paixão. Então, ao passar por aquela esquina, parecia que eu ainda me via ali ou via outra pessoa chorando sentado enquanto pessoas passavam por ali, sem que percebessem que ele existia. Ergui a cabeça, olhei para os céus e vi a imagem de minha mãe. Ela deveria estar orgulhosa de mim.
   Minha vida mudou graças a um ser humano que me provou que a sociedade ainda não está perdida, que ainda existe gente boa neste mundo. O mais impressionante de tudo é que eu tive a impressão de que já havia passado por tudo aquilo alguma vez. Aquela casa verde, aquele piso vinilício, o chá, o jornal...
   Um Déjà-vu? Não sei. A única coisa que sei é que, agora, quero ser jornalista!

13 julho, 2013

A Cigarra

Ando por aí pensando
Em como seria minha vida
Se eu tivesse uma proteção natural
Um mecanismo que me ajudasse
A acostumar-me rapidamente
Com as perdas da vida
Ou a adaptar-me
A todo tipo de ambiente
Sem desventura
E sem balbuciar sobre o chão
Que estou pisando

Caminhando pela praça
Desta cidadezinha bem localizada
Enxergo algo ali no chão
O que era uma cigarra
Agora é só uma carcaça
Abandonada, feito folhas
Que caem das árvores
Deve ser a ecdise
Oh! Eles realizam a ecdise...
Ou algo mais simples que isso
Tal como a morte
O qual também realizamos

Enquanto o homem
Debaixo da terra, descansa em paz
A cigarra, na mesma terra, vive
Seus primeiros passos, lá ela tudo faz
Enquanto o homem sofre
Pelos quatro cantos do mundo
Gritando, enquanto outros fingem
Não ouvir um só sussurro
A cigarra cantarola
Apenas para tua fêmea
Mas todos a ouve
É mágica, como um coelho
Sendo tirado da cartola

Muitos vivem noventa anos
Sem sequer um suspiro de felicidade
Enquanto estes curiosos insetos
Quinze, dezesseis, dezessete anos
Será que são felizes
Apesar de esquisitos?
Sem muita força, tampouco ágeis
Pequenos e de pouca vida
Mas não avaliam grandeza pelo dinheiro
Tampouco por religião
Não brigam por comida
Há seivas para todos
Não machucam o próximo
O canto é para todos ouvirem
É! Acho que ser uma cigarra
Não deve ser tão ruim...

02 julho, 2013

Azul

Tome este pincel
Vamos Pintar
As paredes da vida
Do nascer do sol ao brilho do luar
Pintar de azul
É a cor do mar
O mar é infinito ao nosso ver
O infinito é azul
Creio que sinto algo azul
Por você
Vamos pintar
O resto do mundo de azul
Nada é infinito ao nosso ver
Que não seja o mar
Este mar é seu
Meu presente
Seu futuro
Espere o sol se por novamente
Sente-se na areia comigo
Pegue o pincel
Vejo um azul em seus olhos cor de mel
Consegue ver o infinito nos meus?
Vamos nos juntar ao azul
Dê-me a mão e feche os olhos
Ao beijar-me
Verás tudo azul
Tudo infinito
Ao abrir os olhos novamente
Verei um azul ainda maior
Que o infinito do mar
O azul de seus olhos cor de mel...