Perdoe-me por tremer as mãos
Mas carrego tudo nas costas
Das mazelas do mundo aos grãos
De promessas decompostas
Que ludibriam cidadãos
Escrevo buscando respostas
Para perguntas que atormentam
A alma que acumula crostas
Que doem mas não alimentam
Mais um caído nas encostas
Pedido de perdão que vem
Através de letras tremidas
Que esbravejam como ninguém
Que sinto demais outras vidas
Menos a que meu corpo tem
A ponta da caneta aperta
O papel borrado e rasgado
E cutuca a ferida aberta
Nas costas de um ser abalado
Que enxerga uma vida deserta
29 junho, 2020
21 junho, 2020
Flauta
A flauta é tocada em cifras de devaneio
E as costas descansam do fardo pesado
Poesia esta que me salva do anseio
E das mazelas que tornam-me abespinhado
O que era para sempre foi-se com o vento
Enquanto apanho feio do desconhecido
Hoje os calos cobrem-me de doce acalento
Enquanto a flauta cura um pobre adoecido
Fragmentos do que já foi um regozijo
Rasgam a pele como farpas de madeira
De quem um dia revelou seu esconderijo
E agora recorre novamente à esgueira
Apenas na companhia da doce flauta
E do vento que não hesita em levar tudo
A vida e suas sucessivas trocas de pauta
Sopro de pesar na flauta de um homem mudo
E as costas descansam do fardo pesado
Poesia esta que me salva do anseio
E das mazelas que tornam-me abespinhado
O que era para sempre foi-se com o vento
Enquanto apanho feio do desconhecido
Hoje os calos cobrem-me de doce acalento
Enquanto a flauta cura um pobre adoecido
Fragmentos do que já foi um regozijo
Rasgam a pele como farpas de madeira
De quem um dia revelou seu esconderijo
E agora recorre novamente à esgueira
Apenas na companhia da doce flauta
E do vento que não hesita em levar tudo
A vida e suas sucessivas trocas de pauta
Sopro de pesar na flauta de um homem mudo
18 junho, 2020
Apostasia
Minha dor é parcelada
Com juros e correções
Uma alma abjurada
Abri mão de orações
Amargo e sem aperitivo
Que esmiúça por inteiro
De medo de morrer eu vivo
Molhando a pena no tinteiro
Para o prato principal
Com juros e correções
Uma alma abjurada
Abri mão de orações
Amargo e sem aperitivo
Que esmiúça por inteiro
De medo de morrer eu vivo
Molhando a pena no tinteiro
Para o prato principal
19 março, 2020
Bósforo
Sem ter para onde ir
O Bósforo atravessei
Vendo gente a ir e vir
Noutra calçada sentei
Enquanto faz oito graus
Pedi para meu sustento
Alguém descia os degraus
Mas não para meu tormento
Vendo ele me dar um pão
Ouvi um som noutro lado
Bem na hora da oração
Por uma voz fui tocado
O muezim os chamou
E a cidade foi rezar
O azan ele clamou
E deitei para chorar
O Bósforo atravessei
Vendo gente a ir e vir
Noutra calçada sentei
Enquanto faz oito graus
Pedi para meu sustento
Alguém descia os degraus
Mas não para meu tormento
Vendo ele me dar um pão
Ouvi um som noutro lado
Bem na hora da oração
Por uma voz fui tocado
O muezim os chamou
E a cidade foi rezar
O azan ele clamou
E deitei para chorar
08 março, 2020
Petricor
Dos céus vem aquele som
Que precede a chuva no alvor
Molha a terra como um dom
E umedece a alma
Dos que sentem dor
Corpos que levam saraivadas
Das marcas da vida e da morte
Tais como as calhas estouradas
Das simples casas
Velhas e sem sorte
Intempéries que ensolaram
As mentes angustiadas
E em petricor transformam
Lágrimas dos que tombaram
Em promessas forjadas
Que precede a chuva no alvor
Molha a terra como um dom
E umedece a alma
Dos que sentem dor
Corpos que levam saraivadas
Das marcas da vida e da morte
Tais como as calhas estouradas
Das simples casas
Velhas e sem sorte
Intempéries que ensolaram
As mentes angustiadas
E em petricor transformam
Lágrimas dos que tombaram
Em promessas forjadas
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