12 novembro, 2017

Clamor

Crianças morrem na vala da plena intolerância
Enquanto bandeiras queimam em seus corpos
A paz é gravemente ferida pela sã arrogância
Na guerra diária da vida que se vai dos mortos

O terno que nunca é lavado no tanque de pedra
É vestido por quem comanda tanques de guerra
O mundo chora nas duras mãos de quem prega
As mentiras que fazem pobres comerem terra

O imponente verde predominante das florestas
Sucumbe à enorme planície morta e incolor
E a tão querida fauna se torna status nas festas
Casacos de pele das madames do desamor

Preta é a pele dos que pelos olhos sangram
E também a mãe solteira largada por outrem
Cor da eterna resistência dos que estancam
A hemorragia do ódio que os humanos têm

O mundo é do mundo e não de dez ou vinte
Uma flor aos inocentes que se vão aos prantos
Salvemos a Terra dos lordes do plano seguinte
Ou a dor perdurará arrastando-se pelos cantos

12 setembro, 2017

Amiga Angústia

Não vivo um incessante eu
Porque ando fora de mim
Tempos correm menos o meu
Dias parecem não ter fim

Com o silêncio fiquei surdo
Porque ele gritava demais
Sou mais um invisível no mundo
Que às vezes corre para trás

Minhas costas têm as marcas
Do mundo que caiu sobre elas
Peso que corta como facas
Escuridão à luz de velas

No subterrâneo de mim
Possuo uma paz barulhenta
Que fora procuro sem fim
Enquanto a angústia me atormenta

Mas ela já é minha amiga
Mesmo eu negando de antemão
Às vezes a gente briga
Mas ela me livra de estar são

19 agosto, 2017

Contradições

O coração é partido
Porém entre dois mundos
Ora em mim clama a libido
Entre dilemas vagabundos
Ora penso no que foi vivido
E que curaram cortes profundos
Mas novos cortes virão
E o que está partido em dois
Poderá ser um ou um milhão.

12 abril, 2017

Serena

Folhas que secas caem
Fim que se vai com o vento
Vidas de corpos saem
E perdem-se ao relento

Serena como a voz
De uma mulher querida
A morte é a ressaca
De quem está bêbado de vida

27 fevereiro, 2017

Cinza

Ouço o barulho do trem
Enquanto o café esfria
Vejo pegadas de outrem
Mas passo sozinho o dia
Penso na chuva e ela vem
Pra me livrar da agonia
Dias cinzas choram também
O incolor que me agracia

O rústico do que sou
Aflorando pelos cantos
Dos cômodos onde vou
Grita em silêncio e aos prantos
Onde a esperança esmiuçou
E para evitar espantos
Fecho a janela e me vou

13 fevereiro, 2017

Eu

Noite que de mim se esquivas
Por admirá-la sem acanho
Lua que mantém em mim vivas
Lembranças boas que apanho
Minh'alma viaja entre as vias
De um cabelo escuro e castanho
Aposto eu que nem sabias
Em vossas lágrimas de antanho
O quão bem fazem as utopias
D'eu pensar em você sem tamanho.

11 fevereiro, 2017

Retórica

Ao sair cansado estou
Tampouco seguro sou
Ninguém me procurou
Ou disse "contigo vou"
Nada disso me abalou
Pois quem se acostumou
Ao que o outro se tornou
Pode dizer que bastou
O trajeto que registrou
A sós com o que sobrou
E ao chegar o que restou
Além da sopa que azedou?