14 outubro, 2018

Onda de Ódio entre Religiosos

Muitos que não saem da igreja só pensam no bem estar de si próprio e da panelinha à sua volta. A palavra de amor ao próximo só vale a quem concorda com seus costumes e segue os mesmos dogmas. Se você for de uma religião diferente ou simplesmente não seguir religião (o meu caso), você será excluído ou não será digno de merecer o mesmo "pedacinho do céu", como alguns dizem.

No Brasil, principalmente após essa onda de ódio e extrema polarização que está havendo na internet, nas ruas e até mesmo nos bastidores (dentro das casas, entre quatro paredes, onde a violência ocorre e muitas vezes ninguém fica sabendo), passamos a enxergar melhor quem utiliza a religião para o bem do próximo e quem a utiliza apenas pra benefício próprio, ajudando a aumentar cada vez mais essa segregação cultural e até mesmo étnica em nosso país.

E, ao observar esses discursos de ódio sendo exaltados inclusive por religiosos que tanto pregam moral e bons costumes, penso em como nossa sociedade encontra-se perdida. Vivemos em um país onde os que usam frases de efeito como "Sou contra o aborto pois sou a favor da vida" são os mesmos que apoiam um fanático e admirador assumido de torturadores, que faz pouco caso com mortes de inocentes, trata as minorias como inferiores e ainda utilizam a famosa "bandido bom é bandido morto". A sociedade está doente e se recusa a remediar-se após tantas oportunidades de prevenir a doença e não aproveitá-las.

Na verdade, não me surpreende o fato de muitos religiosos (em sua maioria radicais, e não estou falando dos muçulmanos do Oriente Médio, mas sim de parte dos católicos e evangélicos no Brasil) apoiarem o radicalismo e o medievalismo, pois, o catolicismo se tornou tão poderoso exatamente através de práticas bárbaras e medievais, mas o fato é que não estamos mais na idade média. É século XXI. É 2018. Apesar de não estar surpreso, saber que muitos ainda pensam como naquela época sombria de nossa história me assusta e não é pouco.

Benito Mussolini ascendeu ao Parlamento Italiano em um pouco antes da eleição do Papa Pio XI (eleito em fevereiro de 1922), com um discurso simpático à Igreja Católica na época, contradizendo seu próprio discurso usado antes de estar no poder, quando perseguia a Igreja junto aos Camisas-Negras. Após subir ao poder, Mussolini dizia que o fascismo ajudaria a promover os valores do Cristianismo na sociedade italiana (o que lembra um pouco o discurso do inominável de que o Brasil será um Estado Cristão e que "não tem essa" de Estado Laico). 

O líder fascista italiano era um ateu fervoroso antes de chegar ao poder, mas depois percebeu que a benção da Igreja seria fundamental para que ele conseguisse chegar ao poder (quem duvidar do acontecido, é só pesquisar o livro "Papa e Mussolini: a conexão secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa", do americano David I. Kertzer), e o Papa Pio XI, mesmo sabendo que Mussolini era antirreligioso, viu ali a oportunidade de um acordo para conseguir novamente os privilégios que a Igreja tinha pré-unificação italiana - ou seja, pura troca de interesses (alguma semelhança com a situação atual NÃO é mera coincidência).

O mesmo Kertzer destacou, também, que tanto o fascista italiano quanto o Papa Pio foram eleitos em 1922, poucos anos após a Revolução Russa e a disseminação do bolchevismo na Europa que aterrorizava muito o Vaticano. O que isso tem a ver com a fortificação do fascismo? Tudo. Com a sensação de terror que o Vaticano sofrera nessa época, Mussolini se aproveitou desse sentimento de anticomunismo que se propagava (como consequência do medo) entre o povo italiano e conseguiu unir forças com a Igreja, principalmente após a desilusão de que as democracias ocidentais não resolveriam a expansão do comunismo (coincidência novamente? Acho que não). Mussolini, anos depois, se juntou a Hitler. O resto da história já estamos carecas de saber (se bem que, últimamente, há muitos "cabeludos" que ainda não têm noção do que isso significa)...

Aliás, falando em Hitler, vale frisar que ele pregava que os arianos eram superiores às outras raças e etnias, exaltando a autoestima de seu povo e tornando-o cego em seu próprio ego inflado. A Igreja Católica também usava artimanha semelhante e clamava que era a única representante de Deus, exaltando seus fiéis a pensarem que eram os "fiéis originais" de Jesus Cristo.

Líderes sanguinários sempre utilizaram discursos que exaltavam seu povo acima de qualquer outro. A história está aí para quem quiser (e se interessar) saber. A religião, quando usada para o mal, pode acabar com um país, um continente, um planeta. Pode manchar de sangue toda e qualquer bandeira existente na face da Terra, e a bandeira mais suscetível a ser suja de sangue é a da paz, pois além de ser toda branca, sendo facilmente identificada qualquer mancha, é o pretexto utilizado por praticamente todas as guerras.

E aos religiosos que tanto exaltam o discurso de ódio ao próximo do candidato do PSL à Presidência da República, aqui vai um trecho do livro sagrado que vocês tanto dizem basear-se:

"Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?" (João 4:20)

Pratiquem mais o amor e menos a segregação e o preconceito, pois vocês provavelmente crucificariam Jesus nos tempos atuais.

Paz. ☘️️

05 outubro, 2018

Inerte

A vida passa e me sinto como um senhor de rua, que vê tudo passando em sua frente e percebe que, durante toda a vida, não participou de nada que aconteceu nessa correria maluca. As coisas acontecem, as pessoas amam e deixam de amar, histórias são escritas, corrigidas e infelizmente apagadas, e eu aqui, inerte perante a sociedade, arrependido por ter deixado o medo de arriscar me dominar pelas quatro estações da vida. Não aproveitei nada como deveria por medo de errar e, hoje, encontro-me às traças, vendo que, na verdade, não conquistei nada além de ilusões. Sou como um senhor das ruas que se alimenta de migalhas do que um dia já foi e que, hoje, não é mais, e insisto em pensar que continua sendo. A vida flui, a Terra continua em sua eterna rotação, as pessoas fazem o que deve ser feito e eu, aqui, solitário por ter vivido mais em minha imaginação do que no mundo real, somente na condição de observar, angustiado, todo esse funcionamento. Assim como todo senhor das ruas, também derrubo aquela lágrima pesada que percorre todo meu interior, com muito arrependimento de não ter feito tudo diferente. Tudo que já fui, já foi. Tudo que sou hoje, na verdade, é nada. E o que um dia me alimentou sem proteínas, hoje me torna esfomeado de tanto cinza esvaziando meu estômago. A vida é cruel quando também somos cruéis com nós mesmos. Ela não volta. Ela só vai. Vai. E vai.

26 agosto, 2018

Abismo

Felicidade, talvez, seja esse negócio que as pessoas têm quando estão eufóricas. A euforia nunca foi com a minha cara. Ela chega mostrando a que veio e, logo em seguida, me leva todo o ânimo além de algumas cervejas. Felicidade deve ser o que sinto quando finalmente estou distante em no mínimo um quilômetro de qualquer voz. Aprendi a não me surpreender com o dom alheio de soltar minha mão quando estou para cair, mas também sinto-me culpado por ter jogado-me mesmo quando um ou outro tentou me impedir de sucumbir em mim mesmo e estar em queda livre neste abismo. O básico já me é difícil faz tempo e prefiro não entrar em detalhes. Falhei ao tentar conhecer a senhora felicidade e todos os seus sentidos e pontos de vista existentes. Há tanto tempo estou em queda neste abismo que a cada minuto que se passa, mais fico convicto de que ele é minha única morada sincera. O breu em que encontro-me é mais fiel a mim do que qualquer outra alma viva, e foi muito difícil aceitar que o vácuo me preenche mais do que os que dizem ser sinceros e cheios de particularidades admiráveis. Talvez o fim seja este, um divisor de águas, uma fronteira que separa-me do desconhecido. Pessoas me trazem vazio e ainda levam o pouco que tenho. Mas, afinal, o que realmente ainda tenho? A felicidade pode ser o fim para quem já não quer mais nada.

11 agosto, 2018

O Homem Invisível

Ele não se vê em nenhum desses grupos de amigos de infância, nunca está em nenhuma foto de familiares, nunca é lembrado pelas pessoas que já participaram de sua vida e insiste em acreditar que isso tudo são apenas detalhes de uma vida vazia e ignorada pelos demais. Ele observava sua presença sendo ofuscada por qualquer outra pessoa que passava por perto e se lamentava a cada vez que alguém que ele gostava olhava para outrem de um jeito que mil palavras não são suficientes para dizer que o que foi visto não aconteceu. Quando criança, ele vivia a observar os sofrimentos cotidianos dos peões desse tabuleiro de xadrez e, quando cresceu, desenvolveu fobias diversas. Ao crescer, experimentou alguns prós da vida social e, no fim das contas, percebeu que nada nunca fez sentido e que ele não era aquilo. Ao concentrar-se novamente em si mesmo, percebeu que seu dom de saber observar tudo à sua volta também lhe traria muitos sofrimentos, pois a vida e as pessoas nunca eram como ele imaginava em seu mundo interior ideal. O mundo é mentiroso, e as pessoas, também. Ele passou a desenvolver, além de muitas fobias, também muitas frustrações amorosas, sociais e profissionais. Viu a sociedade tapar os olhos para suas dores e, na contramão disso, passou a atrair a atenção de pouquíssimas pessoas que sempre tiveram o mundo aos seus pés. Elas tentaram ajudá-lo neste caminho árduo da sobrevivência conflituosa, mas simplesmente nada o convencia mais de que a vida, o amor e a sociedade não tinham mais solução. De tanto observar, ele via o que não queria, e de tanto ver o que não queria, ele se fechava e sentia uma vontade incomum de arrancar os próprios olhos. Ele se afastava de pessoas que ele amava porque percebia que um dia seria prejudicial à vida delas, e elas, assim como toda a sociedade, não estavam preparadas para lidar com um ser tão fora da curva, e isso lhe sangrava na alma a todo instante. Ele passou a sobreviver utilizando suas frustrações, reflexões destrutivas e flashes de cenas dolorosas que já observou como combustível para, ironicamente, seguir em frente. Perdeu pessoas e dizia a ele mesmo que nunca mais se aproximaria para atrasar a vida de ninguém, mas a vida reserva surpresas e novos episódios foram escritos enquanto ele mal conseguira assimilar a frustração dos episódios anteriores. Ele sabia que, com sua situação psicológica severamente comprometida devido às frustrações e humilhações que passou, não conseguiria mais satisfazer e ser "o inesquecível" na vida de ninguém. E os fatos provaram exatamente o que ele imaginava. Limitado e ainda mais afetado pelos fantasmas do amargor de sua vida, ele percebeu o que talvez já sabia: que era um peso na vida das poucas pessoas que restaram. Ele não precisou ouvir isso de ninguém, pois, o que se vê, nem com mil palavras é refutado. E de tanto ver o que não queria, arrancou os próprios olhos para não arrancar o próprio coração. A dor e o sangue que caía sobre a pia eram pormenores se comparados à dor que ele sempre sentiu por dentro. A pior dor veio depois que ele percebeu que os olhos arrancados não arrancava os flashes de cenas que o machucava e de momentos bons que ele não era mais capaz de ter. Ele é invisível, mas existe. Hoje, sem olhos e enjaulado em suas próprias frustrações e crises intermináveis, simplesmente alimenta seu corpo já enfraquecido imaginando um mundo que só existe dentro de sua mente e em nenhum outro lugar.

11 fevereiro, 2018

Fraco

Nessa panela de pressão
Tudo e nada faz sentido
Pois até a senhora razão
Deita na cama da libido
E nos orgasmos de ilusão
Me entrego à fantasia
Da amarga sensação
De chorar em poesia
Deixei partir a bela flor
Sabendo como regá-la bem
Agora sou carente do ardor
Que seu espinho me trazia