05 outubro, 2018

Inerte

A vida passa e me sinto como um senhor de rua, que vê tudo passando em sua frente e percebe que, durante toda a vida, não participou de nada que aconteceu nessa correria maluca. As coisas acontecem, as pessoas amam e deixam de amar, histórias são escritas, corrigidas e infelizmente apagadas, e eu aqui, inerte perante a sociedade, arrependido por ter deixado o medo de arriscar me dominar pelas quatro estações da vida. Não aproveitei nada como deveria por medo de errar e, hoje, encontro-me às traças, vendo que, na verdade, não conquistei nada além de ilusões. Sou como um senhor das ruas que se alimenta de migalhas do que um dia já foi e que, hoje, não é mais, e insisto em pensar que continua sendo. A vida flui, a Terra continua em sua eterna rotação, as pessoas fazem o que deve ser feito e eu, aqui, solitário por ter vivido mais em minha imaginação do que no mundo real, somente na condição de observar, angustiado, todo esse funcionamento. Assim como todo senhor das ruas, também derrubo aquela lágrima pesada que percorre todo meu interior, com muito arrependimento de não ter feito tudo diferente. Tudo que já fui, já foi. Tudo que sou hoje, na verdade, é nada. E o que um dia me alimentou sem proteínas, hoje me torna esfomeado de tanto cinza esvaziando meu estômago. A vida é cruel quando também somos cruéis com nós mesmos. Ela não volta. Ela só vai. Vai. E vai.

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