03 outubro, 2014

Quarto Escuro

Quarto escuro de uma casa velha
Onde não há cama ou criado-mudo
Lágrimas cor de groselha
Caem e sujam meu escudo
Meu teto e meu chão
O silêncio é gritante
E namora com a multidão
De vácuos constantes
Que me cortam feito facão
O remorso escaldante
Em meu presente delirante
Ainda longe da absolvição
Da autoacusação de compulsão
Quarto escuro e de porta emperrada
Por cadeados e correntes
Que não têm compreensão
Nem pudor ou compaixão
Ninguém consegue abrir
Pois engoli o molho de chaves
E não será fácil de sair
Demorei tanto a perceber
Que a porta foi trancada para dentro!
Um cego que se trancou sem ver
Agora encontro-me no centro
Flagelado por uma legião de 'eus'
Que ainda não são meus
Enquanto os 'eus' do passado
Me abandonaram dizendo adeus
E nunca levantei-me para saber
O porquê de terem me deixado
Muita dor física e mental
Me faz ainda um pouco racional
E para não sucumbir à dor em vão
Morderei as correntes
Com todas as forças
Da porta deste quarto escuro
Pois se eu não arrancá-las
Elas me arrancarão de mim
Pois quero sair
Sem mais me trancar
Novamente sem saber
Quero sair desta casa velha
E enxergar as árvores novamente...