Copos. Sempre quebro copos. Quase
todos os dias. Costumo sempre deixá-lo sobre a escrivaninha, junto de algumas
folhinhas de rascunho e uma caneca d’água. Sou canhoto e costumo deixar o copo
ao lado de meu braço esquerdo. Quinze segundos e eu já esqueço que o pobre
coitado está lá, e levanto o braço para coçar a cabeça, esbarrando no copo que
se espatifa pelo chão. Copo, para mim, é sinônimo de ideia nova. Sempre que
tenho alguma ideia nova, coço a cabeça. Mania normal demais para alguém nem tão
normal assim. Imagine só, quantos copos eu já quebrei nessa vida? Na maioria
das vezes o copo está cheio de água, que de tanto que espera para ser bebida,
só falta evaporar. Às vezes penso que sou maldoso demais com os copos, não só
por viver quebrando-os, mas sim por esquecê-los, mesmo eles ali, ao meu lado,
ao lado da mão esquerda que escreve a esmo. Costumamos desprezar coisas que
estão tão perto da gente, não é? Os copos lá, se quebrando, e eu sempre
indiferente. Confesso que, nas primeiras vezes, até me surpreendia com meu
excesso de distração, mas depois se tornou normal. Vou me conhecendo mais a
cada copo que se quebra. Acho que é assim na vida também. Algo por perto querendo
nos chamar a atenção, e a gente valoriza mais o que está longe, inacessível. O
simples aos nossos olhos e a gente querendo enxergar o que não precisa. Pois é,
preciso dar mais valor aos copos. Eles estão sempre ao meu lado e eu vivo
quebrando-os. Faz parte. Eles se quebram enquanto junto os cacos em minha mente.
E quem junta os cacos dos copos? Sim, sou eu, tentando reparar meu erro de desvalorizar o que esteve sempre ao meu lado.
[...]